Amanda Sodré

    6 lições que aprendi na minha 1ª viagem sozinha – Por Amanda Sodré

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    Sempre tive 3 grandes paixões: escrever, viajar e aproveitar a minha própria companhia. Como passava muito tempo sozinha em casa durante a época da escola, me aproximei de experiências como ir ao cinema sozinha ou à um show sem conhecer ninguém, mesmo depois que já estava namorando. E, depois da minha primeira viagem internacional com meus avós, aos 14 anos, para a Itália e Portugal, cresci sonhando em viajar o mundo e conhecer lugares que antes só tinha visto em livros de história ou filmes. 

    Quando consegui meu primeiro emprego guardei meu primeiro salário, o segundo, o terceiro e assim por diante, até ter dinheiro suficiente para viajar. Mesmo assim, percebi que o meu sonho de viajar demorava a chegar porque meu namorado, minha família e meus amigos não podiam viajar comigo – tanto por falta de dinheiro como por incompatibilidade de datas. E foi então que eu decidi realizar meu sonho mesmo assim.

    Depois de algumas experiências que serviram para me encorajar, como ir para Marrocos cobrir a Conferência das Partes 22 (COP), da ONU com a faculdade e viajar para a África do Sul para um voluntariado com animais sem conhecer ninguém, foi só em 2018, com 20 anos, que senti coragem o suficiente para realizar meu sonho de viajar sozinha, de fato, depois de ter sido inspirada pela viagem de uma colega de trabalho que viajou para o Chile sozinha. Assim, baixei vários aplicativos de promoção de passagens aéreas e coloquei na cabeça que seria interessante conhecer um país da América do Sul, porque eu falo espanhol e também pelo valor da moeda. Após algumas semanas, recebi uma promoção para passar 4 dias na Argentina e 6 no Chile e, sem pensar, comprei. Foi uma oportunidade tão diferente que, aqui, listo algumas lições que aprendi nessa primeira viagem sozinha para a vida toda: 

    1. Se der medo , vai com medo mesmo.

    Casa Rosada, Buenos Aires - Argentina.
    Casa Rosada, Argentina.

    A primeira coisa que eu senti foi medo, o que é normal considerando que vivemos em um mundo em que há violência contra a mulher e tantos índices de feminicídio. Durante os preparativos para a viagem eu estava tão animada em vivenciar a experiência que nem me permiti sentir insegurança, mesmo com alguns amigos e familiares me falando como eu era “corajosa” por me aventurar sozinha em um país diferente ou então me perguntando a conhecida frase “vai sozinha?”. A sorte é que meus pais sempre tiveram mentes muito abertas e meu namorado me incentivou muito a agarrar essa oportunidade.

    No dia de embarcar, minha mãe me levou ao aeroporto, onde comemos um lanche e nos despedimos. Eu estava tranquila e me sentia livre. Mas, no momento em que entrei no avião e me sentei no assento senti um choque de realidade e uma sensação de pânico. Pensei em largar tudo, voltar, sair do avião. Várias perguntas passaram pela minha cabeça naquele momento e me achei irresponsável e louca por ir à um país que eu nunca havia ido sozinha e sem conhecer ninguém. Mas, passado um tempo, fechei os olhos, me acalmei e me apeguei na crença de que aquela seria uma aventura incrível. E foi ali que eu percebi a importância do medo: é ele o que nos mantém vivas, certo? O medo não é a falta de coragem e, por isso, se der medo, vai com medo mesmo. 

    2. Tudo bem ser flexível. 

    Em uma viagem sozinha, a alimentação também é sozinha. Cafe Martinez em Buenos Aires

    A primeira parada era Buenos Aires e, quando cheguei lá, já era noite, por volta das 22 h. Eu tinha planejado tudo para pegar um ônibus até o hostel que eu havia reservado, de forma a ter a experiência mais econômica e mochileira possível, mas não consegui. Saindo do aeroporto, vi como estava escuro, frio, pessoas falando outro idioma e eu sem conhecer absolutamente ninguém, e sem sequer um sinal de celular. Nessa hora, me senti fraca e pedi um táxi. Me senti um pouco envergonhada por sentir medo, mas não me culpei por muito tempo. Era a minha primeira viagem sozinha e estava em um país que eu nunca tinha ido: eu e nem ninguém precisa se cobrar tanto. Afinal de contas, a viagem precisa ser divertida, não pressionante

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    3. O primeiro perrengue te fortalece para os próximos.

    Chegando ao hostel, mais uma surpresa: não havia placa indicando hostel nenhum e o número do estabelecimento era o de um prédio antigo. Não tinha campainha nenhuma e os responsáveis pelo hostel não indicaram que eles estavam localizados em um prédio. Mais uma vez, fiquei calma e aproveitei para entrar quando uma pessoa saiu do estabelecimento e deixou a porta aberta. Mas, uma vez lá dentro eu não sabia para onde ir, então bati em umas três portas para perguntar se alguém sabia onde era o hostel que eu ia ficar. Ninguém sabia e uma moça foi, inclusive, grossa comigo. Ali eu tive a certeza de que tinha sido uma péssima ideia viajar sozinha: estava sem chip para falar com alguém ou buscar na internet alguma informação, a porta estava trancada (era com trava magnética) e eu não sabia o que fazer.

    Foi então que decidi subir todos os andares do prédio (com a minha mala nas costas) e procurar por um sinal do hostel, até que, quase no último andar, encontrei um papel impresso em frente à uma porta indicando que era um hostel. Fiquei aliviada e fiz uma nota mental para estar preparada para os próximos perrengues: eles vão acontecer, mas com calma tudo se resolve. 

    Amanda Sodré em Cerro Santa Lucía, no Chile.
    Cerro Santa Lucía, no Chile.

    4. Tudo o que não é planejado é melhor.

    Não vai sair tudo perfeito do que jeito que você planejou, e tudo bem. Aquela foi a minha primeira viagem sozinha, eu tinha que me permitir errar. E mesmo assim, tudo foi ainda mais emocionante do que se eu tivesse planejado. Na frente da Casa Rosada, na Argentina, fiz amizade com uma moça que mora na mesma cidade que eu no Brasil e nos falamos até hoje, com um encontro que fazemos tradicionalmente uma vez por ano pelo menos.

    Já no Chile, graças a um passeio que perdi porque acordei atrasada, conheci uma moça de Curitiba que acabou me convidando para um tour por Santiago. Viramos amigas e ficamos bem próximas na viagem, tanto que no ano passado fui até a casa dela, no sul, aproveitar um feriado. Por isso, hoje o meu planejamento de viagens é flexível, sempre com um espaço para fazer algo inesperado.

    5. Aceitação.

    Amanda Sodré na sua primeira viagem sozinha em Caminito, na Argentina.
    Caminito, na Argentina.

    Sempre tive um grande problema em me aceitar, porque era taxada de tímida e alguém com poucos amigos. Mas, viajar sozinha, interagir com pessoas diferentes e estar aberta a novas possibilidades me fez perceber que eu não sou tímida, mas uma pessoa introspectiva, que precisa de um tempo sozinha para recompor as energias. E tudo bem! Aos poucos fui me aceitando e sabendo como ressaltar meu próprio valor e, com certeza, viajar sozinha foi o primeiro passo para essa aceitação. 

    6. É viciante.

    Antes de acabar a minha viagem eu já pesquisava outros destinos que poderiam ser interessantes. E, de fato, depois que voltei dessa primeira experiência solo, fiz novas viagens sozinha, indo para Florianópolis, Espírito Santo, Jalapão, Aracaju, Foz do Iguaçu e Uruguai (além de visitar em Curitiba a amiga que eu fiz no Chile).

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